12.12.07

A Hermenêutica de Satanás X Hermenêutica de Cristo.

Que a Bíblia é a palavra de Deus, isso eu não discuto, mas que a interpretação (hermenêutica) que nós fazemos e a mensagem que nós pregamos a partir dela é mensagem de Deus, aí já não coloco a mão no fogo. Pois mesmo a Biblia sendo palavra de Deus, os princípios de interpretação que você tiver vão definir se o que você fala vem da parte de Deus ou de outras partes.

Ter uma hermenêutica errada seria como se você tivesse tomado uma picada de uma serpente venenosa e lhe restasse pouco tempo de vida e, agora você se encontra frente a dezenas de remédios do depósito da fazenda e na sua mão a receita do único remédio que pode te salvar, mas você não consegue interpretar o que está escrito no papel. E com isso, você arrisca, tomando o remédio que “acha” ser o que está escrito. O problema é que se você errar o chute, você vai morrer. Em se tratando de interpretação bíblica, não tem como basear a nossa vida em achismos.

Citar a bíblia para afirmar uma verdade sua não quer dizer nada demais. Gostaria de tirar como base alguns princípios que encontrei na hermenêutica usada por Satanás e por Cristo no episódio da tentação no deserto (Mt.4:1-11).

Quando Satanás tenta Jesus no alto do templo, falando para Ele provar que é filho de Deus pulando lá de cima, Satanás cita Salmo 91:1 e 2, rogando as promessas do cuidado de Deus para os Seus filhos.

Se até Satanás pode citar e interpretar a bíblia, a grande questão é: quais são os princípios que vamos usar na nossa interpretação para não serem os mesmos princípios de Satanás e sim de Jesus?

Algo que me chama atenção é que Satanás só cita a bíblia em uma ocasião das três tentações, só quando o texto parecia estar ao seu favor. Ele usa exatamente a introdução que Jesus já tinha feito na resposta da tentação de transformar pedra em pão: “pois está escrito”. Creio que esta seja a dica de diferença entre Jesus e Satanás, Jesus cita a Palavra de Deus nas três respostas. A questão é que não é só na tentação, Jesus respira palavra de Deus o tempo todo. O único na história que poderia ter livre docência ao ensinar e viver, decide viver a sua vida toda debaixo do que tinha sido revelado. Satanás, porém, já tinha a idéia pronta, o que queria fazer e viver e foi até a bíblia para encontrar apoio na sua verdade. E este é um dos princípios da hermenêutica de satanás: o texto como pretexto para o que quer afirmar.

O interessante é que, quando o querer do interprete é maior que a bíblia, ele usa as bênçãos para si e as recomendações para os outros. Como é interessante ver que as três vezes que Jesus cita a Bíblia para responder Satanás, Ele interpreta para Ele mesmo e não para atacar satanás. Ele afirma que não só de pão ele vive, mesmo estando 40 dias sem comer. Não tentarás o senhor teu Deus, mesmo sabendo que Deus responderia os desejos do seu coração, e que ele deveria adorar somente a Deus. Todas as citações foram de encontro com Ele mesmo e não diretamente a Satanás.

Nas batalhas espirituais daqueles que tem o princípio do reino de Cristo, a palavra sempre passa primeiro por aquele que interpreta, diferentemente do acusador, que as usa sempre para atacar o outro, independente do que a palavra fala para ele mesmo.

Pensando bem nos dias de hoje e neste texto, o que estava por trás dos desafios que satanás colocou a Jesus? Fico pensando que Jesus poderia transformar não só a pedra em pão como o próprio diabo em pão. Não pularia do templo e pediria para os anjos pegarem, ria da cara de Satanás e sairia voando. E na hora de que Satanás pedisse para ele se prostrar, com um dedo ele apontaria para Satanás e o fazia beijar seu pé naquela mesma hora. Esta é a reação de um Jesus todo poderoso! Não é?

Mas se ele reagisse dessa forma, com tudo o que ele tem “direito”, ele teria caído nas três tentações de Satanás: prazer, poder e fama. Teria interpretado as verdades do Reino com os princípios da hermenêutica de Satanás. Mas Jesus, ao vencer as tentações, mostra que seu reino não teria os princípios deste mundo, e sim, princípios de renúncia, serviço e humildade.

Esta é a grande diferença entre a hermenêutica de Satanás e a hermenêutica de Jesus, uma parte da prerrogativa do que dá prazer, poder e fama e a outra, da prerrogativa do amor: renúncia, serviço e humildade. Que Deus nos ajude a viver os princípios da hermenêutica de Cristo.

3 comentários:

  1. comentei o seu texto lá no ecos, então, não comentarei novamente aqui.

    Li sua resposta no meu blog, gostei, me deu idéia para escrever outro texto que talvez alcance a resposta da sua pergunta.

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  2. Muito bom o texto Marcos!
    Está de Parabéns!


    Pedro Lucas

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